Sim, sou louca por livros! Adoro aqueles conjuntos de folhas
de papel impressos cosidas em brochuras ou encadernadas! Me encanto com o mundo
paralelo que existe por trás das palavras de história dos escritores, pela
descrição da vida de uma pessoa escrita em uma biografia, pelos pensamentos e
idéia escrito por pscicólogos, médicos, advogados, filósofos, pesquisadores.
Amo ler!
Essa minha paixão começou muito cedo, quando eu nem sabia
ler. Meu pai contava história para mim antes de eu dormir, na verdade, contava
a mesma história sempre, mas eu amava ouví-la, e minha mãe lia para mim e meu
irmão uma história por dia antes de dormir. Era a maior alegria quando ela
chegava do trabalho com um livro novo. Era mágico ouví-la ler, ela não lia simplismente,
ela narrava a história como se tivesse vivido cada momento daquilo que lia, ela
fazia vozes diferentes para cada personagem e dava ênfase a cada novidade
acontecida entre as páginas. Ainda posso ouví-la lendo “Rita, não Grita!” de
Flávia Muniz. Ela fazia a voz da mãe de Rita dizendo: “Rita, não grita!” de uma
forma que parecia que ela mesma era a mãe da Rita e não a minha mãe.
Ainda lembro de ficar agachada por um tempão nas bancas de
revistas escolhendo um Gibi da Turma da Mônica que meu pai sempre me comprava. “Pai,
compra revistinha?”, e ele parava na banca de jornal mais próxima e eu ficava
lá escolhendo pela capa e tirinha final qual a que eu ia querer. Tinha dias que
ele comprava até duas! Ah, era uma felicdade! Então minha mãe lia as historinhas
e fazia a voz dos personagens. O meu preferido de ouvir era o caipira Chico
Bento. Era muito engraçado ouvir ela fazer voz de caipira! E quando eles
estavam ocupados eu pegava a revistinha e “lia” sozinha. Me lembro de inventar
na minha cabeça as histórias já que não sabia ler e aprendi logo as
onomatopéias “ Buaá”, “Poft”, “Soc”, “Pum”…. Quando eu aprendi a ler de
verdade, lia e relia mil vezes a mesma revista, sem me cansar, inclusive, faço
isso até hoje!
Na escola adorava as aulas de Literatura e Redação porque
gostava de ler os livrinhos, inventar historinhas. Lembro da minha emoção
quando terminei um livro de capítulos “Férias de arrepiar” de Graziela Bozano.
Mas bom mesmo foi quando uma vizinha minha que trabalhava em uma biblioteca
bateu na porta da minha casa e veio trazendo pilhas e pilhas de livros para
gente! O filho dela já tinha lido todos então ela resolveu nos dar. Foi aí que conheci
a Coleção Vagalume e não conseguia mais parar de ler. Era uma atrás do outro,
não podia ir na casa de ninguém que tivesse livros da coleção que pedia logo
emprestado. Gibi e livros eu sempre me atrevi a pedir emprestado. Era viciante!
Aí um dia resovli fazer uma lista de livros que lia, peguei um caderno e toda
vez que lia algum livro ia lá e escrevia o nome. Isso começou em 1998 e não
parei mais. Tenho a lista até hoje e
continuo a escrever. Acho que puxei isso da
minha mãe, ela me conta que lia de tudo, toda hora, até em baixo da
cama! Tinha noites que eu não conseguia dormir se não terminasse meu livro! Só
tinha uma coisa que eu não gostava de ler: matéria de jornal. E eu tinha que
ler uma vez por semana e fazr um resumo. Era um bandito dever de casa que eu
tinha na terceira série e que me fazia chorar de tão tedioso. Hoje formada em
Letras creio que superei isso.
Com o tempo as leituras foram
ficando cada vez mais difíceis, as redações com mais exigencias e eu meio
devagar nas leituras. Ainda gostava de ler, mas o desafio de textos complexos
não me animava. Quando estava no primeiro ano do Ensino Médio chegou uma professor
nova na escolar que tinha um jeito diferente de dar aulas e me encantei por
ela. Era professora de Português, Redação e Literatura. E como tinha começado
um treinamento fervoroso para o vestibular fazíamos redação uma vez por semana,
até duas dependendo do tema da redação. Eu sempre tirava boas notas e ela
sempre colocava alguma observação nas minhas redações até que um dia ela disse
que eu escrevia bem, tinha boas idéias mas faltava maturidade na escrita. Com
respeito disse que se eu quisesse ela me emprestaria bons livros para eu poder
crescer mais. No dia seguinte eu disse: “Eu quero sim os livros”. Então começou
meu verdadeiro desafio comigo mesma: encarar outros tipos de leituras, outros
tipos de escrita e criei uma intimidade maior com o dicionário. Foi difícil
para eu ler “O cortiço” de Aluísio de Azevedo. Primeiro eu tinha que saber o
que era cortiço! E no mais, tinha que entender as frases escritas em ordens as
quais eu não estava acostumada a ler. Mas eu li! Quando acabei foi uma sensção
de vitória inexplicável! Então li “Feliz Ano velho” de Marcelo Rubens Paiva e “As
virtudes da casa” de Assis Brasil. E fui lendo e pegando os livros com ela,
devolvendo e lendo… E não tinha nem muita escolha pois os livros que caiam no
vestibular eram coisas como “Dom casmurro” de Machado de Assis e “Senhora” de
José de Alencar. Eu TINHA que ler mesmo! Embora esses eu não tenha lido na
época…
Minha lista de livros foi
aumentando e meu desfio de bater meu próprio record também. Fiz vestibular para Letras Portguês e nem temia
o que viria pela frente. Bom, antes tivesse temido! Encarei quatro anos de
leituras e mais leituras. Leituras intermináveis! Desde pscicologia a té
filosofia e antropologia! Textos complexos, gramáticas, latim, pesquisas…
coisas que nunca pensei em ler. Mas pensam que eu não gostava? Eu AMAVA! E o
melhor do curso era ter amigas que amavam ler como eu. Foi aí que eu descobri
que eu não lia nada comparada à elas! Me senti pequenininha quando ouvia uma
delas dizendo: “Li Senhora umas duas vezes, agora vou ter que ler de novo para
fazer esse trabalho…” Duas vezes??? Eu não li nem meia! Ah, não podia ficar
para trás! Resovi encarar os escritores clássicos do nosso Brasil: Machado de
Assis e José de Alencar! E alguns portugueses como Eça de Queirós e José
Saramago. No começo era um martírio, mas depois peguei o jeito. Em época de
férias a gente ia para a biblioteca e pegava cinco livros de uma vez para ler
nas férias! Pegava indicações de livros e ia em frente! Nada me parava. Lia em
sala de espera de dentista, em ponto de ônibus, em ônibus, quando professor
faltava, quando almoçava, sempre que tinha uma brecha eu lia. Meu prazer por
ler e escrever era tanto que passei a escrever toda semana textos de relatos
das coisas que aconteciam comigo no meu dia a dia e mandava por e-mail para um
certo grupo de amigos. Eles chamavam de “semanal”. Eu não falhava, toda semana
escrevia e falta de tempo não existia.
Depois que me formei me vi com
tempo demais. Tanto tempo e nada para fazer. Não tinha academia, não tinha
teatro, não tinha universidade para ir e nem trabalhos para fazer, não tinha
estágio. Resolvi viajar e passar seis meses em Miami, na casa da minha
madrinha, estudar inglês e conhecer gente nova. Desde essa época para cá já
foram quatro anos e meu ritmo de leitura mudou. Agora que eu tinha todo tempo
do mundo (casei por aqui com um brasileiro professor de português) não
conseguia mais ler como antes. Demorava semanas para ler um romance de Agatha
Cristie que eu tanto sou fã, coisa que faria em poucos dias ou até em dois
dias. Não conseguia, simplesmente não conseguia. Teve uma época que eu tinha a
assinatura da revista “Vida simples” e todo mês aguardava anciosa a revista e
lia todas as páginas com muita fome de leitura. Quando saí de casa deixei todos
os meus livros, gibis e revistas na casa da minhas mãe e tive que começar uma
nova coleção. Ainda sinto falta daquela estante cheia de livros e poeira, mas
que nos momentos de vazio eram minha alegria. Bem, minha mãe continua recebendo
as revistas e agora ela manda para mim. Voltei aos poucos a ler, peguei livros
de leitura fácil para pegar o ritmo novamente e fui conseguindo. O primeiro que
consegui finalizar em poucos dias após esse jejum desnecessário foi “ Melancia”
de Marian Keys. Devorei as 8 revistas “Vida simples” que minha mãe me deu e
sexta feira, dia 20 de abril eu finalizei em três dias com muita alegria o livro “Natal de Poirot” de Agatha Cristie!
Nem acreditei que voltei a ler como antes! E antes dele eu havia terminado “O
que as lembranças de infância revelam sobre você” de Kevin Leman e estou lendo
nesse meio tempo “Laços de família” de Clarice Lispector. Hoje comecei “As
esganadas” de Jô Soares que ganhei ontem do meu marido e dei uma paradinha
agora para poder escrever. Tem mais de uma hora que estou escrevendo sem parar
(com exeção de alguns minutos que me dispus a ir ao banheiro).
Nos próximos posts vou falar
sobre o Livro “Natal de Poitot” porque gostei tanto que não posso me calar!
Agora com licença que estou
empolgada com a morte das gordas do Jô!
Larissa Alferes Brasil (23 de
abril de 2012)